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O responsável por me introduzir ao graffiti |
Dezembro de 2023 foi um período
turbulento na minha vida pessoal, portanto o último dia de uma longa e
imprevisível jornada no colegial não parecia nada mais que uma gincana no meio
de algum ano não especifico do fundamental, mas eu sabia que não haveria uma
chance tão excepcional quanto aquela, portanto mantive minha tinta em mãos a
todo momento. Não vou entrar em detalhes, mas como os eventos acabaram com
tempo de sobra, tivemos um momento para fazer algumas artes no interior da
escola, um grande avanço comparado à confiável caneta pilot que usávamos para
escrever na parede e nos tetos. Em seguida, tivemos a oportunidade, neste mesmo
dia, de fazer nossas tags ao ar livre no perímetro do lago municipal, um dia
extremamente produtivo ao considerarmos que aquela latinha não viu a luz do sol
por aproximadamente de 365 dias. Alguns dias antes do ano acabar, me reuni com
meu grupo de interesses mútuos para realizar algumas pixações com maior
liberdade, além de jogar um pouco de basquete, não era incomum ver pixações na
quadra principal da nossa região então é natural que tenha sido nosso primeiro
aproveitamento real da tinta em mãos naquele dia. O grande descaso com o
patrimônio muitas vezes resulta em uma cena de uma quadra sem cestas, como era
o caso nesse dia, logo, para não perder o dia, decidimos seguir para a quadra
mais próxima, que por acaso possui uma presença significativa na minha história.
Essa segunda quadra era parte da escola onde cursei o fundamental, porém, após
algumas reformas, ela foi separada do perímetro original da instituição,
tornando-se pública. Tendo isso em mente, não pude deixar de atribuir ao local
uma marca moderna que remeteria ao forte sentimento de nostalgia e às memórias
que possuía.
Os prospectos de um reencontro em
dezembro de 2024 estavam em intersecção com a nostalgia dessa recordação, além
de algumas influências de mídias analíticas de outras formas de arte e seus
passados. Inicialmente, associei o fato de que as tags do meu grupo seriam
vistas em conjunto, pelo que seria a terceira vez, com a existência dos “crews”
– termo usado para descrever grupos de grafiteiros – em específico, com um
grupo associado a um grafiteiro pelo pseudônimo de BOBAGEM, o qual é um
acrônimo da frase “Brasil Oferece Baixa Alimentação Governantes Escondem
Milhões”, só pude entender o verdadeiro significado por trás da tag, assim como
a existência de seu crew, através do Instagram do autor que descobri em algum
momento do ensino médio. Procurando me recordar e aprofundar sobre o grafiteiro
e seu bando, decidi procurar sua rede social novamente, mas, por algum motivo,
eu não estava mais entre os seguidores do que era um perfil privado no Instagram,
impossibilitando meu acesso a quaisquer informações.
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BOBAGEM |
Esse obstáculo desviou minha
jornada para o caminho de nostalgia que me inspirou verdadeiramente a produzir
esse texto. A maioria das pessoas consegue, após serem pressionadas, concordar
que o graffiti sempre esteve presente em sua história, mesmo que não praticando
sempre vai haver um muro em alguma local popular o suficiente para você
imaginar o desafio que seria pichá-lo. No meu caso não é diferente, uma década
atrás eu estava descendo a rua da escola anteriormente mencionada e vendo
rabiscos e nomes nos muros, porém havia uma tag em especifico que marcou uma
enorme presença, “Los Punkers”, com a obra de maior destaque encontrada
no prédio da Secretaria de Segurança Pública. Por alguns anos meu grupo de
amigos especulava sobre as raízes daquele nome – de certa forma influenciados
indiretamente pela cultura do graffiti – mas somente durante meu recente
momento de pesquisa que pude atribuir um lado humano àquele símbolo.
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Uma das mais impressionantes do CORUJA |
Erison Francisco, responsável
pela tag SCA, com participação no mural do cemitério municipal e do
terminal da TCA, além de inúmeras outras obras, faleceu dia 7 de setembro de
2024, mesmo após muito aprofundamento não acredito que conseguiria encontrar
todos os adjetivos para tratar com o devido respeito o nome do artista e seu
histórico de contribuições para a comunidade e o graffiti de Araras. Minha
análise superficial inicial me levou a uma descoberta que cimentou o peso de
tudo que havia encontrado até aquele momento, uma antiga obra no Centro de
Artes e Esportes Unificados (CEU), realizado em 2015, a qual sempre roubava
minha atenção ao ponto de acreditar que ela existia ali a muito mais tempo do
que o relatado.
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Obra Mencionada, SCA |
Após o longo período de obsessão, juntamente com o processo de escrita e pesquisas adicionais, tive a oportunidade de refletir sobre o passado e a presença do graffiti no mesmo. Ressalto novamente, é comum dizer que você já teve algum contato com a arte urbana, mas agora é diferente para mim, já não posso afirmar com tanta certeza que rabiscava e assinava carteiras na escola sem motivo, afinal, inconscientemente eu sempre via a história de inúmeras pessoas escrita claramente em muros espalhados pela cidade e, por muito tempo, eu achava que era só isso. A curiosidade e a pesquisa me permitiram associar os pseudônimos, as figuras, a rostos, a pessoas (mesmo que ainda conceituais), influenciando diretamente na forma em como penso na próxima vez que vou sair na rua com uma lata de tinta e um sonho, sabendo que agora eu faço parte dessas pessoas.
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(gif por samxsteve, tumblr) Seja lembrado. -koMAG |